O jesuíta tem como meta zerar déficit de R$ 600 milhões até 2030 e ampliar a pesquisa e a IA
O padre Anderson Antonio Pedroso, reitor da PUC-Rio, não esconde a sua inquietude e a sua fala rápida para quem acorda, todos os dias, às 4h30. Ao ser reeleito, em junho de 2025, tem projetos de expansão para a universidade fundada em 1940 pelo Cardeal Leme e pelo padre Leonel Franca, dois grandes artífices da Igreja Católica no século passado.
Anderson, 50 anos, jesuíta como os seus antecessores, tem uma missão difícil pela frente que, em parte, já foi cumprida. Herdou um déficit de R$ 600 milhões acumulado em dez anos e, a julgar pelas receitas à vista, pretende zerá-lo até 2030. Não faltam projetos nem a boa vontade de ex-alunos bem-sucedidos, reunidos na cruzada do endowment, o fundo patrimonial, que pode trazer R$ 500 milhões para a Universidade, tendo à frente nomes como o gestor de recursos Arminio Fraga Neto, ex-presidente do Banco Central e dono da Gávea Investimentos. Da mesma forma, a Fundação Behring doou R$ 35 milhões para o projeto de criação de um Instituto de Inteligência Artificial.
Nessas novas frentes, inclui a Faculdade de Medicina, que tem o apoio do SUS e da Prefeitura do Rio, com uma rede de hospitais (750 leitos) e uma tradição: a pós-graduação na disciplina, que completa 74 anos com a participação de 20 mil profissionais. A PUC-Rio é a única a não ter Medicina entre as sete pontifícias do Brasil, noves fora as outras universidades comunitárias. O novo curso, uma vez aprovado pelo MEC, deverá oferecer 108 vagas por ano. Além da oferta de bolsas, a Medicina da PUC-Rio promete uma formação de médicos com uma visão humanística e preocupação social.
“Na minha gestão, constatei que valores éticos e morais são tão importantes quanto os econômicos. A PUC-Rio atrai pessoas com grandes fortunas que querem deixar um legado. E a universidade tem o papel de servir aos mais pobres, dando bolsas, sem esquecer da classe média e apostando na transformação social. Eu ajo de forma transparente”, afirma o reitor.
Os números comprovam a eficácia do Padre Anderson, doutor em História da Arte pela Universidade de Sorbonne, em Paris: em 2025, foi registrado incremento de 35% da operação de ensino, pesquisa e extensão; os projetos patrocinados tiveram um salto de R$ 400 milhões para R$ 550 milhões; e houve grande ampliação nas bolsas de estudo. O resultado mais expressivo em 2025 foi o aumento histórico de caixa de R$ 100 milhões, o maior já registrado pela Universidade.
Embora a expressão CEO (Chief Executive Officer) seja vista de forma pejorativa por parte da Igreja Católica, o fato é que o Padre Anderson funciona como um grande líder de uma empresa que se encontrava com graves problemas financeiros e dificuldades das chamadas regras de governança, com disparidades salariais jamais vistas em seus quase 85 anos de história. Não à toa, por sua capacidade administrativa, foi nomeado uma espécie de CEO das PUCs da América Latina. Anderson teve uma linha direta com o Papa Francisco (1936-2025) e mantém um canal com Leão XIV.
“A minha meta é a de servir, oferecer melhores equipamentos para a PUC, dar bolsas de estudos para os mais necessitados, o que inclui também a classe média, e oferecer um ensino de alta qualificação. Eu jamais reduziria o déficit com demissões ou fechamento de departamentos. Eu quero uma PUC renovada, com crescimento.
Anderson, carismático e muito falante, domina o mecanismo de apresentar resultados econômicos e financeiros e reconhece a tradição humanística da PUC e a sua importância na cidade do Rio. Ele se envolve com os formadores de opinião, e nessa agenda inclui o prefeito Eduardo Paes na criação de um novo branding para a cidade. A PUC se confunde com a cidade tanto na sua importância quanto na sua capacidade de formar talentos e atrair a inteligência, além de ser um celeiro de ideias para todo o mundo. A instituição é reconhecida como uma espécie de bunker da resistência ao regime militar (1964-1985).
Ele quer fazer da PUC uma referência nacional na pesquisa e no desenvolvimento econômico e social, atraindo também investidores que apostam na importância do legado que será deixado para novas gerações. Anderson sabe que, para isso, é preciso ter governança, regras claras, transparência e, sobretudo, credibilidade.
Padre Anderson está ciente desses desafios e amparado por seu amplo conhecimento e pela sólida rede de contatos estabelecida no Vaticano, na Arquidiocese do Rio e junto a empresários de destaque no cenário nacional, o que inclui também o mercado financeiro.
Ele aposta no desenvolvimento de uma nova PUC, mais plural e preparada para enfrentar novos desafios, como a Inteligência Artificial. Não é uma tarefa fácil mesmo para um jesuíta, cuja formação exige 14 anos. Anderson busca ser essa liderança em uma universidade que tem 12 mil alunos.
A PUC-Rio, no coração da Zona Sul da cidade, procura manter a informalidade entre alunos, professores e funcionários, sendo um marco no Rio de Janeiro. Por ali, desfilaram grandes figuras históricas em todas as correntes do pensamento – do Direito à História, passando pela Economia, Ciências Políticas, Engenharia e Física, além, claro, da Teologia.
Anderson sabe desse patrimônio e joga toda a sua aposta em uma universidade que dialoga com todos os públicos – ricos e pobres –, sem a ideologia que empobrece a interação. Ele quer consolidar um projeto que possa alcançar diferentes públicos, que mantenham as suas ideias, mas um único objetivo: transformar a sociedade em algo melhor, mais igualitário, sem fronteiras ideológicas ou sociais.
O seu encantamento por Francisco (1936-2025) e Leão XIV apenas confirma essa nova PUC, que mistura a tradição de um cardeal Leme com a inovação do novo papado, que, a exemplo de São Tomás de Aquino, identifica a humildade como o primeiro passo para a sabedoria.
No campus arborizado da Gávea, historicamente um espaço de pensamento crítico e resistência, Anderson tenta conciliar tradição humanista com uma agenda pragmática, orientada a resultados.
“Eu não tenho dinheiro. Tenho ideias”, diz.
Para um jesuíta, isso pode ser pouco.
Para a PUC-Rio, talvez seja exatamente o que falta.
Publicado em: https://exame.com/colunistas/coriolano-gatto/padre-anderson-moderniza-a-puc-rio-e-busca-investidores-do-setor-privado/
